julho 14, 2009

Mortes não esclarecidas


- Padre Samiro?
- Alo! Bom dia. Dê o seu recado.
- Queria comunicar um falecimento.
- Pois não. Um momento que vou anotar... Nome?
- Meu?
- Do falecido.
- Clésio... Góes... Búrigo... Moreira* (a ouvinte fala devagar pro padre anotar).
- Hora da morte?
- 23 horas.
- Velório é onde?
- Casa mortuária da Brasília.
- Missa de corpo presente?
- Sim.
- Onde?
- Igreja da Próspera.
- Enterro?
- 16 horas.
- Onde?
- Cemitério da Brasília.
- OK. Nossas condolências à família enlutada.

***

Quase toda manhã tem isso. Às vezes mais de uma morte por manhã. Dois detalhes nessa rotina mortibunda merecem reparo. Um, o padre demonstra ter uma planilha em mãos quando interroga o comunicante; dois, falta a causa-mortis na planilha.
Aí está. Essa falta é pior que a morte. PutzGraça fez uma pesquisa via Orkut e está comprovado: 185,2% das pessoas que ouvem a notícia de uma morte tende a pretender o nexo causal. Morreu de que? E o padre não diz. A gente fica angustiado. O padre nos acorda às 5 da manhã como se fosse o porta voz do além e esquece o principal?! Morreu de que, padre? O povo enlutado agradeceria saber.

(*) Qualquer semelhança é mera ficção.

8 comentários:

  1. Eu sempre tenho uma impressão de que as mortes são tratadas como celebração.

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  2. Alguém concorda comigo! é muito, muito importante saber do que o cara morreu! Num dia de Finados, fui no ccemitério e comentei com meu marido: Nas lápides devia tá escrito do que a pessoa morreu pra gente não ficar curioso. O porque da morte é fundamental.

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  3. É uma sacanagem não dizer do que morreu mesmo...

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  4. ...e como dizia meu avô, que aliás já morreu tem anos: "a curiosidade matou o (putz)gato"

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  5. Chico Feitosajulho 14, 2009

    Pessoal vamos com calma...
    Se o padre Samiro contar tudinho no programa de rádio, como é que o Pinduka vai vender o seu jornal depois?
    É a divisão tétrica do trabalho.
    Samirão diz o nome do (ex)vivente e a hora do enterro.
    Pinduka dá a foto, o apelido do falecido e a causa mortis.
    É cada um no seu quadrado...

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  6. Uma vez, fui fazer uma matéria (esqueci do que era) e perguntei pra enfermeira a causa da morte da pessoa.

    Ela disse que não podia divulgar estas coisas, sem autorização da família. Questionei porque, e ela falou: As vezes a pessoa pode ter falecido por algo banal, mas era aidética, ou pode ter sido por outra causa que a família não quer que ninguém saiba.

    Depois disso, entendi pq ninguém pergunta na mídia o motivo do falecimento da pessoa.

    Mas que dá uma curiosidade, dá

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  7. Eu acho que todo enterro deveria ter uma festa,igual a do M.Jackson.No meu vai ser vintão por cabeça o convite.

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  8. Isso que o programa do Padre tá muito mais pra hora do recado apresentado por narrador de futebol (no rádio) do que para um programa religioso né... é uma correria só.
    Mas ele ainda me deixa um furo desses?
    Aí não dá.
    Por isso que prefiro quando o "reserva" apresenta.
    É bem melhor e muito mais tranquilo para o despertar.

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