O caso das pulseirinhas sacanas

Sobre a postagem "A pulseira da burrice e a Câmara", Bitter deixou o seguinte comentário:

Um despautério.
Desde quando em nossa sofrida pátria, em nosso penado mundo, um edilota tem autoridade para decidir sobre os costumes e trajes? Desde sempre.
Da maneira que estão a conduzir as discussões e ponderações sobre os infames acessórios femininos, o real teor das decisões que os edilotas tomarão é varrido para debaixo da pirita.

Pouco importa à população se um adolescente vai beijar outra adolescente que está a oferecer seus doces lábios a qualquer um capaz de rasgar-lhe o adorno pendente em seu braço. Pouco importam os gemidos de dor dos pais ao perceberem nunca terem exercido controle ou orientação sobre a vida sexual e afetiva dos filhotes. Tanto ação ou inércia têm conseqüências, agora agüentem.

É um despautério uma comunidade tão engajada em saber e demonstrar altíssimos conhecimentos do universo modástico, deixar seus edilotas reunirem-se na salinha de cadeiras marcadas para criar um dispositivo legal – apesar de não muito bacana - para controlar as roupas que devem ou não ser usadas.

Não admirem-se quando baixarem mais um ato constituinte municipal, extirpando as calcinhas coloridas. “De agora em diante ficam proibidas as calcinhas de cor violeta, elas estimulam o canguru-perneta.” Dirão em alto e bom som, aparecerão nas rádias e falarão na têvê sobre os problemas das calçolas coloridas.

E como os jornalistas que vos servem são muitíssimo atentos, sábios, refinados e formados, irão logo buscar a opinião pública sobre o assunto - e isso lhe será apresentado durante uma refeição. Vai aparecer uma sombra falante, com voz de peido preso, dizendo que não consegue mais viver, vai se suicidar-se, a vida acabou depois que descobriu - de maneira não muito agradável, ao menos me parece, pois diz ser uma moça de família honrada - que não pode mais usar a calcinha de cor favorita, porque agora ela representa que vai ser sem cuspe, e à seco é foda.

Imagine a desgraça que será quando o lobby do dízimo instituir que agora, mulher só anda de saia. Vai facilitar e até estimular a rasgatanga geral. Sempre um tiro no pé, mas sempre pega de raspão, e isso porque estão todos ocupados, ocupadíssimos, em decidir sobre os significados das cores e dos rabos.

Enquanto a atenção dos irresponsáveis é desviada, a rapaziada continua aprendendo, estudando, evoluindo o jogo da ovulação e coito interrompido. É, interrompido porque camisinha não pode. Ninguém vai assumir a cria, mas de camisinha, nem pensar. E nesse empurra-empurra entre família, edilotas e escola, o caráter forma-se com o auxílio da internet.

E daí amigão, lembre-se que não estamos mais nos tempos da conexão discada - quando o cidadão esperava dez minutos para abrir uma fotografia - hoje é plug and play. E por mais que relutes em aceitar, as pessoas fazem sexo. Elas também nascem, crescem, e morrem, mas gostam mesmo é de sexo.