Odeio Gramado

Depoimento de um putzgraciano injuriado:

Não sei porque insisto em visitar Gramado. Fui lá semana passada, eu, minha mulher e minha sogra. A velha sogra ficou deslumbrada. Minha mulher também. Eu deveria ter ficado extasiado também, o problema é que tenho a mania de olhar tudo e comparar com Criciúma. Não só em Gramado, em todo lugar que vou é assim, se a coisa é organizada ou avacalhada eu sempre penso como a mesma coisa é lá aqui em Criciúma. Já deu pra sacar o problemão, né? Gramado é covardia. Nunca fui na Europa, mas se lá tem lugar mais bonito que Gramado deve ser um paraíso. Em Gramado até  cachorro de rua é de marca. Não vou falar aqui de pontos turísticos, tipo Lago Negro, porque isso é questão de natureza, ou se tem ou não se tem. Não dá pra acionar político e buscar verba pra fazer um Lago Negro aqui com pedalinho e tudo. A questão é o que os caras fazem pra deixar a cidade bonita. E eles fazem. Dizem que é a ascendência alemã… E dai? Europeu por europeu aqui tá assim de italiano - o Salvaro é italiano. Mas, vamos lá. O asfalto… cara, procurei um buraco lá, eu queria bater uma foto e botar no Putz. Pensei até em tirar uma onda, tipo, “tá vendo, a gente fala do Salvaro e Gramado, como aquela marra germânica, também tem buraco.” Não achei. E as calçadas? E as faixas de pedestres? E tudo o mais?
Tudo caprichado nos mínimos detalhes. Ah os detalhes… parece que aí reside o segredo. Eles cuidam dos detalhes. Aqui nós até fazemos algumas coisas, mas depois de pronto a gente olha e sente um cheiro forte de gambiarra (os recapeamentos da rede de esgoto, as calçadas do INSS, o calçadão da Nereu, etc).

Fomos um show natalino (Nativitaten) de luzes e fogos e músicas cantadas por sopranos, tenores, médio sopranos, barítonos, 1/4 de barítono, 1/8, cara nem sabia que existia isso (pagodeiro e dupla caipira não tinha). A performance dos cantores e cantoras  vem em cinco línguas diferentes, tudo entremeado de rajadas de fotos sincronizadas eletronicamente. Cara, não é Brasil. Tem no youtube, mas lá, ao vivo, é impagável. No outro dia falaram que tinha um desfile, também de natal, que era mais lindo ainda. Não fui. Pensei comigo, é muita organização (ah tá, não falei da organização do Nativitaten, ingresso, corredores, arquibancadas, banheiros, tudo perfeitamente sinalizado – até um retardado mental com problemas no GPS da cabeça senso de localização, como eu, consegue achar tudo), depois tenho que voltar pra Criciúma e vou ficar depressivo.