Sexo, cremes e preliminares

Dadão e Lica – ela médica, ele geólogo atualmente cursando Direito na Unesc, sem filhos, levam a vida dentro de um nível considerado padrão para um casal classe média de formação universitária. Inclusive na parte sexual.

A equação 10 x 90

Falando em sexo, talvez principal bloqueio que, a rigor, penetra fundo em casais de outras classes além da média é a questão da preliminar. A estatística dá conta que a preferência nacional pelo item é das mulheres. Elas dizem que gostam com a mesma freqüência que reclamam da indiferença deles. Na verdade não ha indiferença, há sim um descasamento de prioridades muito difícil de ser conciliado. Por elas, toda a atividade luxuriosa na cama poderia ser dividida em 90% pré e 10% daquilo. Para eles 90% é muita perda de tempo, o contrario estaria bom: 10% de aquecimento e 90% de vamos ver.

Ele ou ela, não importa quem

Falar é fácil, reclamar também. Agora, vai lá ficar 90% tentando fazer pegar pra ver o que é bom. É assim que os homens se penitenciam, inclusive Dadão. Assim, já que ele insistia em privilegiar o jogo de fundo, restava a Lica tomar a iniciativa. E ela tomou. Começou armando uma campanha de esclarecimento que consistia em fazer ela própria o que esperava ele um dia fizesse por conta. Dadão aceitou a novidade passivamente. Era mais fácil. Intimamente ele interpretava a libidinagem dela como normal, algo compatível com uma preliminar. O detalhe de ser ela e não ele a fazer a parte ativa no processo era irrelevante, o certo é que todo mundo diz que preliminar é importante e eles estavam tendo uma.

Sacanagem arrepiante

Lica se esmerava na tarefa e excitar o marido, sempre mentalizando que fazia aquilo no afã de provocar nele atitudes semelhantes. Buscava inspiração para seus prelúdios de várias formas, as mais sugestivas encontrando nas páginas da Playboy. Foi lá que ela aprendeu um sensual exercício que viria a usar em Dadão, com uma pequena adaptação provocada pela (in)disponibilidade de recursos materiais. Era sobre a sacanagem favorita de uma coelhinha muito safada que consistia em lambuzar o namorado com creme chantilly e depois lambe-lo carinhosamente causando arrepios de prazer.

Empregada do demo

Partindo da lição à ação Lica fez alguns afagos pré-preliminares no maridão e em seguida pediu que fechasse os olhos que ela introduziria algo novo no jogo. Foi lá dentro pegar o chantilly e... tinha acabado. A empregada comeu tudo pensando que era sorvete. Teria que usar a alternativa B, mel natural, mas este... também tinha acabado. Um pouco irritada, Lica escancarou a geladeira à cata de qualquer coisa com consistência parecida a de um gel erótico. Procurou iogurte, margarina... nada; tentou geleia, chimia, maionese, azeite de oliva... maldita empregada!

Até o saco

Foi então que Lica viu um frasco que poderia salvar sua noite: um potinho de Vic-Vaporub. Ela o pegou e voltou correndo para o quarto torcendo para que o marido ainda estivesse no clima. Ele continuava lá, de olhos fechados, aguardando, Lica se aproximou, fez uma nova bateria de carinhos para religá-lo e iniciou a experiência. Abriu o potinho e com a ponta dos dedos espalhou uma sutil camada, direto na região logo abaixo do umbigo, e aguardou. O contato da pomada fria fez Dadão suspirar e aí Lica empolgou-se. Juntou o conteúdo do frasco e empapou todo o aparelho erótico do parceiro incluindo aí a bolsa testicular.

Queimor abrasivo

Trinta segundos foi o que durou a brincadeira. A partir daí, o friozinho inicial, mascarado pelos movimentos de aplicação do produto, foi progredindo, progredindo, gelando profundamente as entranhas de Dadão que sentia seus pelos arrepiando num crescendo insuportável. Uma apalpadela ansiosa e percebeu a genitália dormente e insensível levando-o a concluir sem medo de errar: aquilo não era prazer. Nem houve tempo para que ele se desesperasse com a progressão daquela sensação sibérica porque, imediatamente, todo o seu íntimo começou a esquentar, um calorão que lhe trazia lágrimas, a ponto de implorar à beira do pânico que a esposa parasse. Ela já tinha parado e assistia impotente a angústia do marido que dizia estar queimando, que dizia ter um vulcão no meio das pernas, que dizia estava morrendo. Sem conseguir mais segurar, os dois dispararam rumo ao banheiro e freneticamente abriram as torneiras esguichando as partes dele tentando debelar o queimor abrasivo e penetrante com o jato de uma forte ducha e muito sabonete.

O compromisso

Uma noite memorável. Nasceu daí a decisão de abolir todo e qualquer acessório erótico artificial e um forte compromisso mútuo de estudar mais a fundo o fator preliminar.