Para não parecer oportunista, apesar de estar lutando publicamente contra as mazelas do nosso futebol há um bom tempo, decidi não escrever sobre o jogo, os sete gols, a comissão técnica, etc..
O resultado da partida e a consequente eliminação do Brasil não alteram, em nada, a minha opinião sobre a crise existencial que arrasa o futebol brasileiro há mais de uma década.
Porém, devo confessar que o título, se conquistado fosse, me assustaria na mesma medida de grandeza que me assustou esta impressionante derrota. No fim, a vitória (pela qual eu torci) também não influenciaria a minha análise, apesar de eu saber que passaria os próximos 10 anos falando às moscas, como faz, desde 2002, o meu querido amigo, visionário e fundador da Universidade do Futebol, Prof. Medina.
Nos últimos dias muito se falou, muito se escreveu e muito se criticou.
O que só fez aumentar o meu temor com relação ao futuro.
Digo isto porque este filme é uma cópia fidedigna do que aconteceu na derrota do Santos para o Barcelona, em 2011.
Aquele jogo deixou a mesma péssima impressão, de homens jogando contra meninos; causou os mesmos óbvios questionamentos (exaustivamente mastigados pela crítica) e, promoveu uma tentativa de caça as bruxas, mudança de mentalidade e “evolução tática” que em nada resultou.
O buraco é muito mais embaixo.
Os que dirigem o futebol nacional não deram as caras, se esconderam em ambas oportunidades. Como de costume, evitaram e evitarão ao máximo falar sobre as propostas para o futuro pois não entendem bulhufas do que deve ser feito. Entendem de política, de se manter no poder, de explorar o futebol, de mamar nas tetas da vaca.
E como disse o senhor José Maria Marin na primeira reunião do Bom Senso na CBF: “Posso afirmar que não temos nada a aprender com ninguém de fora, principalmente no futebol. Sempre tivemos os melhores do mundo no Brasil. Já vencemos cinco vezes a Copa”.
Ninguém tem necessidade daquilo que desconhece. “Coitado”, ele e seus pares achavam que tudo ia muito bem e que o talento bruto resolveria a questão. Não fazem ideia de que a Seleção Brasileira é o menor, apenas a ponta do iceberg (incrível dizer isso depois de tomar de 7), dos problemas do nosso futebol.
Devemos aceitar esta derrota como mais uma das muitas importantes lições que a Copa nos trouxe até aqui. Se a procura por um legado era apenas para justificar o excesso dos gastos públicos, agora passou a ser o último lampejo de dignidade. Então proponho uma solução ao caos, DEMOCRATIZEM A CBF e salvem o futebol brasileiro.
Campeões, Bicampeões, Tricampeões, Tetracampeões, Pentacampeões, vocês que construíram o futebol brasileiro dentro de campo, estão convocados.
Precisamos de vocês, precisamos ainda mais dos que já provaram sua capacidade fora de campo, gerindo, planejando, vivenciando o que há de melhor no futebol contemporâneo mundial.
Leonardo, Raí, Cafu, Juninho Pernambucano, Kaká, Ricardo Gomes, Roque Junior, Edmilson, Juninho Paulista, Vagner Mancini, Tite, Paulo Autuori e tantos outros, venham, passou da hora de discutirmos um plano de desenvolvimento nacional do futebol, de criarmos regras e licenças para capacitar os novos treinadores, de formar melhor as nossas jovens promessas, de desenvolver ou resgatar o estilo de jogo brasileiro, de proteger as boas práticas de gestão, de punir os infratores, de trazer a família de volta aos estádios de futebol, etc…
Se a CBF não promove esse debate, montemos a nossa Seleção fora dos gramados para desbancar a paralisia da entidade e desatar os nós das amarras políticas que impedem o desenvolvimento, a transparência e a democracia do nosso futebol.
Não os queremos apenas para que deem a cara e tenham a imagem explorada como aconteceu com alguns de nossos companheiros nos últimos anos. Queremos sua experiência, sua paixão pelo esporte, sua alma vencedora e incansável para concretizar mudanças significativas a longo prazo. Acadêmicos, cientistas, estudiosos também são bem vindos, o conhecimento de vocês é fundamental na construção de um novo rumo.
À imprensa e ao torcedor, digo: Não esperem milagres, não acreditem em soluções mágicas como uma simples troca de comissão técnica ou o aparecimento de um novo Neymar. Se o planejamento e o trabalho forem executados por pessoas competentes, apaixonadas e com conhecimento técnico em cada uma das diversas dimensões do futebol, ainda assim, levaremos pelo menos 10 anos para chegar lá. Uma caminhada de mil milhas começa com um simples primeiro passo.
(*) transchupado do blog de Juca Kfouri